sábado, 14 de março de 2015

D. Carlos para para Ler dia 16 de março de 2015 das 9.15 às 9.30h



Dia 16 de Março, pelas 9.15h: Proposta de leitura e reflexão em sala de aula sobre um texto alusivo ao tema                     “ Palavras do Mundo”.



Pretendeu-se que à mesma hora e em todas as Escolas do Agrupamento D. Carlos I, crianças e adultos se dedicassem à fruição do prazer da leitura, assinalando-se também de forma simbólica o início da 9.ª Edição da Semana Nacional de Leitura.




Foi solicitado pela BECRE D. CARLOS I a todos os Professores e Educadores que dedicassem este período à leitura e reflexão em sala de aula sobre a importância das palavras a partir de uma leitura de um texto que considerassem pertinente.


 A Biblioteca Escolar apresentou ainda as seguintes sugestões de leitura:


3.º Ciclo: 

Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar. As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas. Talvez porque a sensualidade real não tem para mim interesse de nenhuma espécie - nem sequer mental ou de sonho -, transmudou-se-me o desejo para aquilo que em mim cria ritmos verbais, ou os escuta de outros. Estremeço se dizem bem. Tal página de Fialho, tal página de Chateaubriand, fazem formigar toda a minha vida em todas as veias, fazem-me raivar tremulamente quieto de um prazer inatingível que estou tendo. Tal página, até, de Vieira, na sua fria perfeição de engenharia sintáctica, me faz tremer como um ramo ao vento, num delírio passivo de coisa movida.

Como todos os grandes apaixonados, gosto da delícia da perda de mim, em que o gozo da entrega se sofre inteiramente. E, assim, muitas vezes, escrevo sem querer pensar, num devaneio externo, deixando que as palavras me façam festas, criança menina ao colo delas. São frases sem sentido, decorrendo mórbidas, numa fluidez de água sentida, esquecer-se de ribeiro em que as ondas se misturam e indefinem, tornando-se sempre outras, sucedendo a si mesmas. Assim as ideias, as imagens, trémulas de expressão, passam por mim em cortejos sonoros de sedas esbatidas, onde um luar de ideia bruxuleia, malhado e confuso.

Não choro por nada que a vida traga ou leve. Há porém páginas de prosa que me têm feito chorar. Lembro-me, como do que estou vendo, da noite em que, ainda criança, li pela primeira vez numa selecta o passo célebre de Vieira sobre o rei Salomão. «Fabricou Salomão um palácio...» E fui lendo, até ao fim, trémulo, confuso: depois rompi em lágrimas, felizes, como nenhuma felicidade real me fará chorar, como nenhuma tristeza da vida me fará imitar. Aquele movimento hierático da nossa clara língua majestosa, aquele exprimir das ideias nas palavras inevitáveis, correr de água porque há declive, aquele assombro vocálico em que os sons são cores ideais - tudo isso me toldou de instinto como uma grande emoção política. E, disse, chorei: hoje, relembrando, ainda choro. Não é - não - a saudade da infância de que não tenho saudades: é a saudade da emoção daquele momento, a mágoa de não poder já ler pela primeira vez aquela grande certeza sinfónica.

Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incomodassem pessoalmente. Mas odeio, com ódio verdadeiro, com o único ódio que sinto, não quem escreve mal português, não quem não sabe sintaxe, não quem escreve em ortografia simplificada, mas a página mal escrita, como pessoa própria, a sintaxe errada, como gente em que se bata, a ortografia sem ípsilon, como o escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.

Sim, porque a ortografia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-ma do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha.

         In Livro do Desassossego por Bernardo Soares, semi-heterónimo de Fernando Pessoa


2.º Ciclo: Citações sobre a palavra

Quem não vê bem uma palavra não pode ver bem uma alma.
Pessoa , Fernando

Toda a minha vida olhei as palavras como se as estivesse a ver pela primeira vez.
Hemingway , Ernest

As palavras são um remédio para a alma que sofre.
Ésquilo

As palavras são a mais poderosa droga utilizada pela humanidade.
Kipling , Rudyard

As palavras têm a leveza do vento e a força da tempestade
Hugo , Victor

As palavras salvaram-me sempre da tristeza.
Capote , Truman

Vida e poesia se comunicam através de túneis de palavras.
Bomfim , Paulo

As palavras não significam nada se não forem recebidas como um eco da vontade de quem as ouve.
Bessa-Luís , Agustina


Não importa o que tenhamos a dizer, existe apenas uma palavra para exprimi-lo, um único verbo para animá-lo e um único adjectivo para qualificá-lo.
Maupassant , Guy

A palavra, por mais contraditória que seja, preserva o contacto: o silêncio isola-o.
Mann , Thomas


Os factos devem provar a bondade das palavras.
Séneca



Uma palavra escrita é semelhante a uma pérola.

Goethe , Johann


Toda a palavra é como uma mácula desnecessária no silêncio e no nada.
Beckett , Samuel


As acções são a primeira tragédia da vida, as palavras são a segunda. Sem dúvida, são as palavras a pior tragédia. As palavras são impiedosas.
Wilde , Oscar


Muitas palavras não indicam necessariamente muita sabedoria
Mileto , Tales


O mal que algumas palavras têm não é o que significam directamente. O mal são as conotações. Nós dizemos «espiritualidade», dizemos «espírito», que não sabemos o que é. É que ninguém pode apresentar uma definição de «espiritualidade» que seja convincente. Tenho a impressão de que as palavras atrapalham muito.
Saramago , José

Homens de poucas palavras são os melhores homens.
Shakespeare , William


Nenhum espelho reflecte melhor a imagem do homem do que as suas palavras.
Vives , Juan

Só as palavras contam; o resto é tagarelice.
Ionesco , Eugène


E uma vez lançada, a palavra voa irrevogável.
Horácio


As palavras são o muro de pedra e cal a fechar o horizonte infinito das grandes ideias claras.

Espanca , Florbela


As palavras são como uma abóbada sobre o pensamento subterrâneo.
Renard , Jules


A palavra tem muito mais força para persuadir do que a escrita.
Descartes , René



Palavras que vêm do coração entram no coração.
Textos Judaicos
Moses Ibn Ezra

Pelas palavras pronunciadas pelo homem você poderá saber quem ele é.

Textos Judaicos
Zohar


A magia da linguagem é o mais perigoso dos encantos
Bulwer-Lytton , Edward



1.º Ciclo: 


Há Palavras que Nos Beijam

Há palavras que nos beijam 
Como se tivessem boca. 
Palavras de amor, de esperança, 
De imenso amor, de esperança louca. 

Palavras nuas que beijas 
Quando a noite perde o rosto; 
Palavras que se recusam 
Aos muros do teu desgosto. 

De repente coloridas 
Entre palavras sem cor, 
Esperadas inesperadas 
Como a poesia ou o amor. 

(O nome de quem se ama 
Letra a letra revelado 
No mármore distraído 
No papel abandonado) 

Palavras que nos transportam 
Aonde a noite é mais forte, 
Ao silêncio dos amantes 
Abraçados contra a morte. 

Alexandre O'Neill, in 'No Reino da Dinamarca' 




Com Fúria e Raiva

Com fúria e raiva acuso o demagogo 
E o seu capitalismo das palavras 

Pois é preciso saber que a palavra é sagrada 
Que de longe muito longe um povo a trouxe 
E nela pôs sua alma confiada 

De longe muito longe desde o início 
O homem soube de si pela palavra 
E nomeou a pedra a flor a água 
E tudo emergiu porque ele disse 

Com fúria e raiva acuso o demagogo 
Que se promove à sombra da palavra 
E da palavra faz poder e jogo 
E transforma as palavras em moeda 
Como se fez com o trigo e com a terra 

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas" 



A Palavra Mágica

Certa palavra dorme na sombra 
de um livro raro. 
Como desencantá-la? 
É a senha da vida 
a senha do mundo. 
Vou procurá-la. 

Vou procurá-la a vida inteira 
no mundo todo. 
Se tarda o encontro, se não a encontro, 
não desanimo, 
procuro sempre. 

Procuro sempre, e minha procura 
ficará sendo 
minha palavra. 

Carlos Drummond de Andrade, in 'Discurso da Primavera' 




Pré-escolar: 

Gosto do Jardim-de-Infância

Gosto do Jardim-de-Infância
Porque cá posso brincar
Fazer lindas construções
Depois tudo desmanchar.
Ouvir histórias e canções
Depois ser eu a contar…
Correr, saltar e jogar
Conversar e partilhar…
Gosto do Jardim-de-Infância
Porque cá posso pintar
Das cores que me apetecer
Posso cortar e colar
Fazer prendas para oferecer
Dar passeios, fazer rodas
E dançar até querer!
Ensaiar quando há festas
Para tudo correr bem…
Nesse dia sou artista
Para o pai e para a mãe…
Gosto do Jardim-de-Infância…
É difícil de entender?
Tenho cá os meus amigos,
Muitas coisas para fazer!

CUSTÓDIO, Lourdes, "No Jardim de infância", Ambar, Colecção giroflé
















































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