quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Assinalando o Dia de Reis

A assinalar a última festa da quadra natalícia (ainda que com tão pouca expressão em Portugal), a biblioteca D. Carlos I reconta aos alunos do 5.º F Os Três Reis do Oriente, de Sophia de Mello Breyner Andresen.
A história dos reis magos será também levada às crianças mais pequenas numa versão livre, redigida pela professora Cristina Calado, e que transcrevemos aqui.
(" Adoração dos Magos",Andrea Mantegna, 1431-1506)

Os Três Magos
Há muito, muito tempo, numa límpida noite de outono, Gaspar, Baltasar e Belchior avistaram-na.
Gaspar, Baltasar e Belchior eram três sábios que moravam em palácios muito ricos, nos três cantos do mundo. Os seus palácios ficavam muito longe uns dos outros, por isso eles não se conheciam; mas, curiosamente, tinham os três um mesmo hábito: todas as noites passeavam sozinhos pelos seus jardins.
Passavam o dia a comer e a conversar com todos os que os visitavam e, por isso, à noite sabia-lhes bem fazer um pouco de exercício para digerir tudo o que tinham comido. Mas não só!
A verdade é que os três gostavam de observar os astros, pois acreditavam na lenda de que uma estrela anunciaria a vinda de um deus à Terra para proteger os homens.
Gaspar não acreditava nos deuses que eram venerados pelo homens da sua terra, a Ásia. Dizia que um verdadeiro deus não podia estar numa estátua. Por causa disso, Gaspar arranjou muitas brigas e inimigos, apesar de ser um homem calmo e amigável.
Baltasar era muito jovem e adorava festas; recebia todos os dias imensos convidados que iam até sua casa, muitas vezes, só para se refrescarem do calor africano. O seu palácio ficava num oásis onde havia dois lagos com repuxos; mas tanto como adorava festas, também gostava de praticar caridade. Era um homem muito sensível em relação aos escravos e aos esfomeados.
Belchior era o mais velho e o mais sábio. Vivia num palácio muito grande, no sul da Europa e estava sempre rodeado de sábios com quem estudava os escritos antigos, sobretudo aqueles que falavam da vinda de um deus dos céus.
Ora, numa bela noite de outono, num dos seus passeios noturnos, os três magos avistaram-na, bem brilhante no céu: era uma estrela diferente de todas as outras. Ela parecia querer dizer-lhes alguma coisa, talvez estivesse a pedir-lhes para a seguirem.
Decidiram segui-la e partiram cada um por si balançando no cimo dos seus camelos.
Ao fim de muito tempo de viagem, os seus caminhos cruzaram-se e os três magos contaram uns aos outros o que os levara a abandonar tudo o que tinham: perseguiam a mesma esperança, o mesmo sonho, o mesmo desejo de encontrar um deus verdadeiro. Seguiam a mesma estrela que se inclinava agora na direção de Belém.
Seis noites depois de se encontrarem, a estrela baixou de repente sobre um amontoado de pequenas casas de barro. Seguiram por uma estreita rua, depois por outra e por outra. Ao fundo, viram a estrela: tinha pousado sobre uma árvore despida de folhas. Mais deslumbrados ficaram quando viram outras pequenas estrelas descerem rápidas do céu e pousarem nos restantes ramos vazios. A árvore brilhava agora como um sol, iluminando tudo em volta.
E foi então que ouviram o choro de um bebé. Numa gruta cavada na rocha, a mãe embalava-o na manjedoura de um burrinho que estava deitado a seu lado. O pai olhava mãe e filho com ternura. Havia muita gente cá fora, mas, em absoluto silêncio. Os três magos aproximaram-se extasiados. Sabiam que aquele era o deus que esperavam, um deus ainda menino, é certo, mas que logo seria um Homem.
Os três magos caminharam até à gruta. Belchior aproximou-se e, tirando algo de debaixo do seu manto, estendeu-o à mãe do recém-nascido:
- Eis aqui este ouro em sinal da nobreza do teu filho, Rei de todos os homens.
Gaspar, olhando o menino com carinho, ofereceu o seu presente ao pai:
- Recebe este incenso pelo teu filho, Deus de todos os homens.
Baltasar foi o último a aproximar-se, estava a tremer de emoção. Estendeu um pequeno pote à mãe:
- Toma esta mirra que prova a humanidade do teu filho.
E os três magos por ali ficaram, à espera que o menino crescesse.

Sem comentários: